Nov 25th, 2008 Por Nuno Afonso
Há algum tempo que esperávamos ansiosamente pela vinda de uma das bandas mais importantes da última década. E essa espera compensou. A noite de ontem foi, em certa medida, musicalmente histórica. Uma daquelas raras actuações que merecem o estatuto de experiência; para lá de mero concerto. Rock ruidoso e visceral num parque de estacionamento subterrâneo em plena Lisboa? Só pode ser épico…
Stellar Om Source
Com a mudança de local para o parque de estacionamento subterrâneo -5 do Largo de Camões, um concerto que já por si se esperava grandioso, veio tornar-se inesquecível. Mais que não seja pela ousadia da organização em realizar um espectáculo destes num espaço tão improvável mas simultâneamente tão perfeito. E igualmente perfeita para a ocasião, foi a primeira parte a cargo de Om Stellar Om Source, projecto da holandesa holandesa Christelle Gualdi.
Tendo já tocado com gente como Mouthus ou Axolotl, Gualdi ofereceu-nos uma poderosa sessão de drones infernais e samples em deconstrução, num fantástico caos organizado. Extratos de riffs lentos pesados saídos de um ambiente pós-industrial em confronto com um imaginário algo esotérico. Esteticamente minimalista e até progressivo, Stellar Om Source é sinónimo de campo de forças magnéticas envoltas de radiação e alta tensão. Meia-hora de caminhos sónicos que prepararam corpo e mente para a chegada de um cometa chamado Lightning Bolt.
Lightning Bolt
Já todos tínhamos passado horas a fio em frente ao Youtube a delirar com as actuações únicas da guerrilha baixo e bateria que revolucionou meio mundo musical e vê-los, ali mesmo à nossa frente, foi inevitavelmente, um momento de recompensa face a esta longa espera de poder assistir a um concerto de Lightning Bolt por cá.
Uma massa de corpos rodeavam a banda que assim que tomaram posse dos seus instrumentos deram início a uma das actuações mais poderosas que a cidade assistiu nos últimos tempos. E sim, finalmente conseguimos ver e sentir o que outrora apenas víamos pelo ecran ainda que com a banda a actuar ao nível do público, os lugares mais à frente fossem os mais desejados.
O volume do som ia aumentando e com ele também a energia que se vivia naquele momento. Os dois primeiros temas estiveram mais próximos de um free-noise em que o baterista Brian Chippendalle já dava puro espectáculo, dignamente encapuzado e absolutamente imparável; ao invés, o baixista Brian Gibson manteve uma atitude mais discreta. Entre o público já se assistia ao habitual headbanging, crowd-surf e ainda houve quem não conseguisse controlar a sua excitação e se juntasse à banda através de uma inesperada prestação de air guitar. Idiotices à parte, até foi um momento aprazível, há que dizê-lo.
O momento alto da noite foi a interpretação de um dos temas-chave da banda, Dracula Mountain. Mosh colectivo, saltos desmesurados, cabeçadas e encontrões (tudo com amor e carinho, portanto) e uma descarga energética como só se podia esperar num concerto de Lightning Bolt. Para o encore, uma manifestação de artilharia sonora em modo crescendo que finalizou na perfeição uma noite que há muito se esperava. Concerto do ano? Possivelmente. Agora, já nos sentimos - musicalmente - um pouco mais realizados. E claro, a certeza de ter sido uma noite inesquecível.
Texto: Nuno Afonso
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